"Eu posso ver anjos te seguindo pela rua; os vejo sempre colocando a mão sobre teu ombro.
As vezes os vejo chorando, até então, não acreditava que anjo chorava... Mas depois que os conheci, de verdade eu acreditei.
Eu vejo os anjos abrindo sua porta. E sempre as fecha. Mesmo quando se esquece de fechar.
Os anjos sempre dormem contigo, e eles também cantam, pra você dormir."
Um dia, curiosa, vaguei lentamente pela cidade, te seguindo com passos pequenos e suaves, para não perceber que alguém te "perseguia". Era difícil não fazer barulho, pois a cidade estava suja, porém, era muito cedo; era domingo e não tinha muitos carros.
Te olhava atentamente... Era tão lindo, os anjos, a sintonia em que todos andavam, alguns até chegavam a flutuar e cantarolavam uma musiquinha tranquila e singela, como canções de ninar. Eu prestava tanta atenção, que me embalava ao som tranquilo, com aquela harmonia, e fechava os olhos... Era uma sensação tão nova, um sentimento tão bom, que parecia que eu também estava flutuando. Mas abri meus olhos rapidamente para me certificar que eu ainda os tinha em vista, e vi também que meus pés continuavam no chão, e confesso que me desapontei, pois além de um sonho de criança, estar flutuando como eles seria mágico.
Passamos o centro e estávamos chegando perto da rodoviária. Quando me dei conta do caminho já percorrido me assustei, e logo disparei meus olhos ao relógio que marcavam 7 da manhã. O estranho era que ninguém parecia ver aquele acontecimento supremo. Os carros não paravam para ver, como todo ser humano curioso, eles sequer abaixavam o vidro para olhar o desfile de anjos pela rua. Nem as pessoas que começavam a abrir as lojas notavam... Será que aquilo só era novidade pra mim? Será que Eles sempre desfilam flutuando por essas ruas? O que exatamente está acontecendo aqui? Por que essa gente não olha?! ...Esses pensamentos estavam começando a me enjoar, tipo quando estamos lendo um livro dentro de um ónibus. aquele balanço todo, me enjoava e acabava me tirando o foco da leitura. Então me foquei nos anjos e parei de pensar. Uma coisa de cada vez. Depois ia pensar em tudo que aconteceu mesmo e me belisco pra ver se estou dormindo. Quando chegamos na rodoviária, eu notei que os anjos cochichavam um no ouvido do outro e colocavam a mão no ombro dEle, apontando para o asfalto, que quando olhei, cheguei a levar um susto; era um menininho de rua, quase sem vestimenta, deitado, nada confortável entre o meio fio da calçada e o asfalto. Fiquei curiosa, pois qual era novidade dEle, ou até mesmo dos anjos, ver o menininho de rua naquelas condições, não do jeito que esse em especial estava, pois qualquer movimento incerto e sem cautela com os carros, ele poderia ser atropelado... Estremeci toda quando pensei nisso. Me deu vontade de ir lá ,puxar o menino um pouco mais para o lado, e oferecer ajuda... Mas meu pensamento solidário foi interrompido quando Ele foi caminhando com os anjos até o menino. Ele o pegou no colo e carregou para um lugar mais seguro, ainda perto da rodoviária. O menino pareceu não acordar, parecia exausto, mas acompanhando todo aquele movimento, pude ver que Ele disse algo ao menino bem no pé do ouvido, e o menino abriu os olhos, assustados a principio, mais logo ficou sereno, e depois de observar ao seu redor, deu um sorriso de orelha á orelha. Por um instante, achei que o menininho tinha me encontrado com os olhos, nessa hora eu estava perto de mais, e corria um grande risco de ser notada pelos anjos. Mas a essa altura, será que eles realmente não tinham notado minha presença ali?! Novamente meus pensamentos me atordoavam de perguntas e eu logo perdia meu foco, vaguei nos meus pensamentos, e logo voltei ao que parecia tão surreal, mas era real, pois eu estava vendo tudo aquilo. O menino se levantou, disse algo a Ele, e correu por dentre as árvores perto da rodoviária. Fiquei seguindo o menino com os olhos e querendo saber o que Ele e os anjos conversaram, e o que o deixou tão feliz. Voltei com os olhos para os anjos, e lá estavam eles atentamente me olhando... Por um momento tive uma sensação de "fui pega". Mas não senti medo, e sim um certo sentimento de vergonha, por te-los seguido durante tanto tempo em "silêncio". Eles fixaram os olhos em mim, e ficaram me olhando... Parecia que já havia passado uns dez minutos do encontro de olhares, e em questão de segundos, eles estavam bem perto de mim, mal pude notar que eles caminharam na minha direção... Estavam na minha frente, diante de meus olhos, tão perto que pude sentir um ar fresquinho, quase gelado, passando pela minha pele, pelo meu rosto...
Uma voz suave, que parecia quase uma canção me disse bem serena:
_ Agora você sabe... _ Afirmou Ele, segurando as duas mãos na lateral do meu rosto. _Você, filha do nosso pai, amada por seus pais, e muito querida. Entendeu o que acabamos de fazer ?
Eu não estava assustada, e também não demorei para responder, apesar de estar admirando todas aquelas faces celestiais ao meu redor.
_ Sim. Vocês ajudaram o menino. _E depois gaguejei ao pensar em uma fatalidade: _ É... e-ele poderia morrer se não fosse vocês...
Respirei fundo e segurei suas mãos em meu rosto. E senti uma calma tão grande, uma segurança... Que mal podia soltar o ar dos meus pulmões.
_ Então você entende, que mesmo aquele menininho sem teto, as vezes até sem família, tem esperança? _ Eu balançava a cabeça com um "sim" ouvindo atentamente.
_ Antes do menino adormecer ele pediu ajuda ao pai. pediu com fé. E estamos aqui. Hoje ele vai encontrar uma assistente social "por acaso" na rua, e ela vai o ajudar. E isso vai acontecer daqui há alguns minutos.
Sorri, com uma felicidade inacreditável. Nunca tinha visto um menino de rua com os olhos que eu havia visto hoje.
_ Você sentiu vontade de ajuda-lo, não sentiu?_ Disse Ele, me olhando e sorrindo junto comigo.
_ Senti. _ eu disse baixando os olhos, com um sentimento de culpa, pois as vezes era para EU ter ido lá, e ajuda-lo.
_ Fique tranquila. Não era a sua vez. Você vai sentir, e vai agir com certeza quando ela chegar. Essa é uma missão. É a sua missão. É a missão de cada um de nós. _ Afirmou Ele com tranquilidade e certeza na voz.
Um sentimento de paz me tomou conta, e fui fechando os olhos sorrindo, estava muito feliz. E nesse sono de paz e felicidade, comecei a sonhar com tudo aquilo que havia acontecido pela manhã, e que eu tinha conversado com anjos... Nossa! Eu conversei com Ele, e com os anjos. Fui abrindo os olhos lentamente, de novo parecia ouvir as canções dos anjos que ouvira poucas horas antes, e quando abri os olhos, vi a rodoviária lotada, muitos ónibus, buzinas, carros... Aquela "bagunça" quase gritei de susto. Mas respirei fundo. E sorri novamente. Eu estava com os anjos... Ou não?!Onde estão?! Comecei a olhar para os lados, fazendo círculos com o corpo, passando o olhar ao meu redor, e nenhum sinal dEles. E olhei para céu com desespero. "meus Deus, o que aconteceu? Aconteceu mesmo?Onde estão os anjos? Onde o Senhor esta? " Respirando ofegante, me deu vontade de chorar... Será que tudo que aconteceu naquela manhã era verdade?! E aquela bagunça da cidade toda de volta?! Será que eu dormi tanto assim em pé, que não notei os anjos indo embora?!... Estava confusa. Mas de repente, senti um soprinho fresco e quase gelado no meu rosto. passei a mão no meu rosto quase tentando pegar o soprinho com os dedos... Era a mesma sensação que tive quando os anjos estiveram perto de mim. Dei um risinho de certeza e sacudi a cabeça com um sim... e fui caminhando até o ponto de Ónibus ás 12:00 hs. Era mesmo tudo verdade. Afinal, como cheguei até ali?!
:)
Ainda tem dúvidas de anjos na terra?
Escrito por Geisiane do Carmo.