segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Dia especial com os anjos II



Casa estranha, grande e escura. Pessoas por perto; medo. Tranqüilidade passava longe por esses dias. Havia uma cama espaçosa e boa para sonhar; sonhar sozinha. Cômodos grandes e convidativos para entrar; cautela. A medida que os dias passavam, conhecia e explorava mais a “casa”, e a cada passo dado, cada conhecimento, cada luz que entrava pela janela, me voltava sempre uma sensação de: “Este não é o meu lugar”. Embora não conseguia buscar um padrão de conforto, parecia que não me sentia bem em lugar algum, porém esse, tinha suas diferenças: Não carregava minha história, e sim, de outros. Outras pessoas que nunca vi, famílias com histórias diferentes, e cargas diferenciadas de personalidades.


Certo dia em uma reunião dos outros, fui convidada. E ao entrar, era sempre a mesma sensação. Indiferente, pois sempre me tratavam super bem, me davam presentes, me elogiavam, não tinha porque não gostar, mesmo assim não me sentia bem, a presença me incomodava e a única coisa me fazia melhor, era lembrar do meu lar, me confortava, mesmo o trocando por este, eu realmente estava afundada em um poço de arrependimento.


Passou um tempo, e eu ainda estava lá. Contas, alugueis, trabalho. Cada dia que passava eu estava mais envolvida com os outros, e já esquecendo do meu lar. Comecei a gostar deles. E passei a enxergar a Capa de bondade que eles tinham. A família tinha me acolhido, tinham filhos mais novos que eu, pouca diferença. Vi nessa família o que existia na minha, que estava longe, e que eu morria de saudades. Fiquei amiga deles, da família e dos filhos.


Em uma noite qualquer a adorável menina de cabelos cacheados – era a filha do meio - pediu para dormir na “minha” casa. Achei uma boa idéia, pois íamos ver um filme, comer pipoca e me distrair um pouco, pois minha vida estava tão corrida, que tinha até me esquecidos desses prazeres caseiros. Bom, esse era o meu plano. Colocamos o filme que ela levou, logo levei um susto ao ver a capa do filme, era muito macabra. Achei estranho uma menina linda daquela gostar de filmes de terror como aquele. Até rimos de algumas cenas, erros cinematográficos... O inicio foi estranho, tinha muitos meses que não recebia ninguém em casa, depois fui me confortando, não havia nada de errado. Estávamos nos divertindo até.


Hora de dormir. No relógio marcavam 00:00hs, e comecei a arrumar nossas camas. Ela estava exausta, não parava de bocejar. Eu perguntei se ela queria ligar para mãe, ela disse que não, que provavelmente ela já estaria dormindo. Balancei a cabeça com um sim e deitei na cama lateral a dela.


Como de costume fechei a janela que ficava bem em cima da minha cama, e comecei minhas orações. (...) Sempre que eu começava uma oração, lembrava do meu dia e tudo que fiz, e sempre planeja o dia seguinte nos pensamentos – que sempre eram iguais os anteriores – senti um vazio, e começou a esfriar muito, me contorci um pouco e ainda com os olhos fechados passei a mão da janela para ver se estava realmente fechada – frio estranho – pensei e abri os olhos; susto. Quando olhei para o lado a menina estava me olhando insistentemente sem piscar. Como se estivesse dormindo de olhos abertos. Olhei para ela assustada, e perguntei se estava tudo bem. Ela demorou cerca de 40 segundos para responder. Falou que sim, e disse com uma certa ira: _QUERO DORMIR AGORA! E virou de frente para parede, lado contrario ao meu. Não entendi nada. E me virei também, logo dormi.


Acordei de repente, sentindo muito frio, e ouvindo barulhos no terraço. Ouvi um miado de gato e me tranqüilizei, devia ser um felino perambulando lá em cima, o frio que estava demais. Fora do comum. O quarto estava muito escuro, não enxergava nada. O armário ficava na lateral do pé da cama. Fui me rastejando sem sair da cama até o armário e peguei mais um cobertor. Fiquei preocupada com ela, peguei uma coberta e joguei na cama onde estava dormindo. Deitei novamente e fechei os olhos. Em menos de um minuto escuto um barulho forte na cozinha, tipo panelas caindo no chão. Me assustei. Chamei pelo nome dela. E ela não respondia. Mordi os lábios e fechei minhas mãos entrelaçando meus dedos. Passou muitas coisas na minha cabeça naquele momento. Fiquei em devaneios durante uns cinco minutos. E abri os olhos. Continuava tudo normal. O quarto estava escuro e não me deixava enxergar nada. Novamente chamei a menina, ela não fazia nenhum ruído quando estava dormindo. Comecei a me sentir estranhamente só. Me deitei rápido por debaixo da coberta tapando minha cabeça. Quando a janela abre sozinha – que fica em cima da minha cama – Eu antes de dormir tinha me certificado que ela estava fechada, e na lateral tem um tipo de tranca que faz com que ela fique fechada a não ser que alguém a destrave. Arregalei meus olhos e senti pânico.


O vento que passava pela janela era absurdo, gelado. Por mais que segurava o cobertor com força o vento era muito forte. E aumentava a cada segundo, até que fiquei descoberta. Sussurrei e gemi de medo. Não conseguia me levantar para pegar o cobertor.


- Pânico – O vento começou a levantar um dos meus braços. Comecei a querer gritar, e quando abri a boca para chamar por alguém, não saia nada... Eu estava sem voz. Comecei a tentar abria a boca sem parar, mais nenhum som conseguia emitir, e meu braço – que estava literalmente no ar - começou a ficar dormente. Eu não conseguia abaixá-lo e nem mexer nenhuma parte do meu corpo, estava desesperada. Já não sabia mais o que fazer. Quando comecei a sentir um peso sobre minhas costas e minha cabeça, e esse peso a cada segundo estava mais pesado, como se tivesse algo em cima pressionado. Eu não podia me mexer, nem gritar, achei que ia morrer. E comecei a rezar chorando muito. Já estava ficando sem ar, ouvindo passos, no terraço, ouvindo vozes, gente correndo... Conseguia ouvir isso tudo, era atormentador. Pensava que estava a poucos minutos da morte, foi então que Lembrei de uma oração que minha mãe sempre cantarolava pra mim: “Santo anjo do senhor, meu zeloso guardador, que a ti me confiou a piedade divina, que sempre me rege, me guarde me governe e me ilumine, amém. E de repente comecei a sentir um calor nos meus pés, e uma claridade imensa que refletia na parede a minha frente. Quando senti esse calor e notei a claridade o meu corpo simplesmente relaxou, e meu braço que levitava voltava levemente ao normal. Continuei sem conseguir mexer o corpo; era como se eu não pudesse ver o que estava acontecendo. O meu medo era tanto que nem queria saber. Mas já estava bem melhor que antes. Não havia tanto medo, e comecei a relaxar, consegui mexer meu pescoço para direita.


Novamente nessa noite atormentada levo um susto, pelo menos um susto curioso e levemente confortante. A imagem era embaçada, havia muita luz. As paredes do meu quarto estavam negras, e só onde a luz chegava em mim. Iluminava todo meu corpo, tentei me levantar, alucinada com aquela luz, eu queria tocar, ver o que era. Já sabia que essa luz tinha me protegido de algo que tentava me fazer mal. Andei meio tonta, tropeçando em meus pés, e quando mais parecia chegar perto, mais eu caminhava, e a luz aumentava. Quando vi que já estava bem perto senti uma tranqüilidade, me senti protegida e guiada sendo iluminada por toda aquela luz, o estranho calor me rodeou o corpo inteiro como se estivesse me guardando, foi me levando novamente para a cama. Eu não coloquei os pés no chão – estava levitando – deitei e olhei para o lado, onde estava a cama que ela dormia... E a menina não estava mais lá. A luz intensa chegou bem perto de mim, para eu fechar os olhos pois a claridade era tamanha, sabe quando você tenta olhar para o sol e não consegue?! Foi exatamente desse jeito. Não conseguia pensar em mais nada, nem se quer na menina filha dos outros que dormia na minha casa, na cama ao lado da minha.


Quando acordei tive a sensação de ter dormido muitas horas, ou até mesmo dias... Me estiquei toda, e novamente olhei para o lado. Apertei os olhos – assustados – que me deixaram bastante surpresa. Logo que acordei, imaginei no obvio, que tinha sido um sonho, um pesadelo com um fim tranqüilizador. Mais pelo visto, não foi. A cama estava toda arrumada. Bem do jeito que eu tinha preparado na “noite” anterior, havia um papel de carta com a oração do santo anjo no travesseiro, e pedaços de papel queimado espalhados por todo o quarto. Fui caminhando até a cozinha, pois tinha ouvido barulhos de panela caindo, e quando cheguei na cozinha tinha um copo de água, e o mais intrigante, foi que o copo estava gelado. Eu estava com muita cede e por uma questão de instinto simplesmente peguei o copo e bebi, quando água estava passando por minha garganta senti o calor – o mesmo calor que a luz me proporcionou na noite anterior – Percebi que não estava bebendo a água em vão, e que ela estava ali me esperando. A água de uma certa forma, me confortou. Então encarei meu medo, e fui até o terraço, pois tinha ouvido passos que vinham lá de cima. Chegando lá, levei um susto que meus olhos estavam cheios d’água; a menina estava lá. Ela estava chorando, e me pediu desculpas. Ela disse que queria me fazer mal, mais que se arrependia, e que agora ela tinha sido libertada, que ia virar um anjo se eu a perdoasse. E os outros? E sua Família? Queriam me fazer mal?! – perguntei chegando mais perto dela – E ela disse direta e confiante – Sim, todos eles! - Nessa hora não me aproximei mais, parei com dúvidas, e perguntei o porque queriam me fazer mal. E ela disse o seguinte:


“ A medida que sua vida muda, você naturalmente perde certos costumes de quando era criança, de como foi criado. E você mudou. Estava triste, cabisbaixa, e tudo parecia lhe incomodar, e todas as pessoas boas que te rodeavam se tornaram estranhos. E os estranhos seus confidentes. Você não rezava mais, não orava com fé. E tudo que você transmite, automaticamente você atrai. Você se tornou estranha. E nosso objetivo, é trazer pessoas assim como você estava para nosso meio, me desculpe por favor”


Ela eu realmente estava certa, eu tinha mudado muito, e estava pessimista com a vida.


Fui até ela e abracei. A principio um abraço gelado, e em questão de segundos foi a uns 60 graus, de tão quente. Olhei para o rosto dela que estava risonho e singelo. E ela me disse para eu ir para casa. A minha casa; pois nada melhor, que nosso lar, pois ela ia para a casa dela. E foi se erguendo lentamente em uma claridade impressionante até que desapareceu.


Desci pensando em tudo que tinha vivido até então, e como é importante rezar, para que o mal que as vezes sem querer atraímos para perto de nós. É importante se amar e nunca esquecer a luz que a vida tem, as coisas boas, até as ruins e agradecer por tudo.



Arrumei minhas coisas. E fui embora feliz e ansiosa por voltar para casa. Com um novo começo de uma nova história.



Essa história foi inspirada em um sonho que eu tive há dois anos atrás.


E com ela tive a seguinte conclusão: Nunca esqueça da pessoas que ama, e nem se distancie delas. Pois elas te amam também e é na sua falha, que os estranhos se fortalecem. Não esqueça que o mal existe e as obras divinas também. Não deixe de orar e rezar, pois mesmo se você não acredita, vai ter uma hora, que com certeza você vai clamar por DEUS. E ele vai te ajudar sem se quer pensar nos erros que já cometeu.